Pedra Branca do Saco dos Limões

Imponente no alto do Morro do Mocotó, essa parede de granito esbranquiçado e fraturado tem alta qualidade e fendas excelentes. É amor à primeira vista de qualquer escalador que a vê. Mas é um caso de amor platônico…

Histórico*

Qualquer um que transite pelo bairro Saco dos Limões em direção ao centro da cidade e olhe para cima do morro, mais para o alto e à direita do túnel Antonieta de Barros, não deixa de notar, em meio à vegetação, uma parede de pedra branca. Localizada mais ao sul do mesmo maciço que abriga a mais conhecida e frequentada área de escalada de Florianópolis, o Morro da Cruz, a bem menos conhecida e menos frequentada Pedra Branca do Saco dos Limões tem tanto tempo de história na escalada da região quanto seu vizinho mais famoso.

“Esquecida” pela comunidade escaladora, a Pedra Branca do Saco dos Limões, da mesma forma que os costões rochosos, o Morro da Cruz, a Pedreira de Itaguaçu (Abraão) e a sua homônima no continente, foi um dos lugares frequentados pelos irmãos Bito e Maurício Meyer nos anos 70/80. Porém, rodeada pelas comunidades do Morro do Mocotó, do Morro da Queimada e Vila Operária, a Pedra Branca do Sacos dos Limões não foi e não é frequentada pelas gerações seguintes em função do receio com a segurança no local. Até o início dos anos 2000 muitos sequer sabiam que a pedra já tinha sido escalada.

No início dos anos 2000, o Rodrigo Gomes Ferreira, o Etzel Ritter von Stockert e eu decidimos ir até a Pedra Branca do Saco dos Limões “desvendar esse mistério”. Separamos uma quantidade mínima de equipamentos. O suficiente para fazer rapel e ascensão por corda caso não fosse possível o acesso por trilha. Não lembro como foi decidido com que carro iríamos, mas foi com o Corsa 1.0 grená que eu tinha com meu irmão que subimos o Morro da Queimada. Estacionamos em uma área aberta próxima ao topo onde em algum momento havia uma igreja. Mesmo apreensivos saímos do carro em direção à mata.

O acesso à pedra foi muito fácil, talvez até mais fácil que o acesso ao Morro da Cruz, sem impedimentos provocados pela vegetação. Rapidamente chegamos ao topo da pedra e imediatamente encontramos grampos de escalada. O Etzel instantaneamente os identificou como sendo do Bito Meyer. Lembro que o achado despertou um misto de decepção e alegria. Decepção por não ser um lugar onde se poderiam abrir novas vias, mas alegria por saber que, se tinha grampo do Bito, tinha via para escalar.

Pedra Branca do Saco dos Limões vista da Rua Otaviano Ramos com a Rua Manoel Gualberto dos Santos no bairro Saco dos Limões. (Foto: Rodrigo Castelan Carlson)

Resolvemos tentar descer até a base caminhando. Optamos erroneamente por descer pela lateral sul da pedra e passamos trabalho por causa da vegetação. Depois de algum esforço para transpor a vegetação, finalmente chegamos à base que era excelente; plana e com espaço para se preparar para escalar e dar segurança. Por conta da vegetação à sua volta, mesmo sendo voltada para Leste-sudeste estava sombreada embora ainda fosse manhã. Fora os grampos do topo, não identificamos nenhum outro grampo instalado. Percorremos toda a base apreciando a qualidade da pedra e as fendas, estas últimas não tão comuns na nossa região. Quando chegamos no lado norte da pedra vimos que tinha uma trilha que liga o saco dos limões ao Morro do Mocotó/Queimada que teria permitido um acesso fácil à base da pedra. A trilha era claramente bastante frequentada e cheia de lixo, como roupas, calçados, sacos plásticos, latas, garrafas e embalagens de alimentos industrializados. Subimos por ela. Ainda apreensivos, optamos por não escalar e retornamos ao carro para ir embora.

Alguns anos depois, durante a inauguração do Parque Aventuras Maria Inês Tournier Rodrigues, hoje Sede do Comando de Policiamento Militar Ambiental de Santa Catarina, onde fica a Pedreira de Itaguaçu (Abraão), conversei sobre o local com o Bito Meyer que tinha vindo a Florianópolis para participar da reforma das vias e ser homenageado na inauguração do parque. Mencionei que tínhamos estado lá e visto os grampos dele. Muito saudosista, o Bito falou com alegria sobre a Pedra Branca do Saco dos Limões, que a tinha escalado de cabo a rabo, com corda de cima e solando, e que as vias eram de excelente qualidade. Mencionou os nomes de algumas vias, dos quais lembro de apenas um, cavalo de pau.

A Pedra Branca do Sacos dos Limões poderia ser uma área de escalada incrível. Pedra de qualidade, fácil acesso, fendas, base boa, sol pela manhã e sombra à tarde. Seria uma alternativo ao Morro da Cruz e à Pedreira para escalada à tarde. Porém, há incertezas sobre a segurança no local. Por enquanto, a recomendação é não ir escalar lá.

* Relato por Rodrigo Castelan Carlson em 6 de janeiro de 2022.